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quinta-feira, 22 de abril de 2010

(BRASIL): "Ricardinho está jogando um vôlei de primeira qualidade", diz Bernardinho

São nove anos de seleção brasileira masculina de vôlei e o técnico Bernardo Rezende sempre tem pela frente períodos de transição com mudanças necessárias, como diz. Mas, ao mesmo tempo em que fala em “mudanças necessárias”, em encerramento de ciclo e da equipe que está bem renovada, Bernardinho, em entrevista ao R7, elogia o levantador Ricardinho que, aos 34 anos, “está jogando um vôlei de primeira qualidade”. A lista de convocados para este ano de Liga Mundial e Mundial em Roma sai no dia 30.
Depois do encontro, na Itália, do preparador físico José Inácio Salles Neto com o levantador do Treviso, Bernardinho conta que conversou algumas vezes com Ricardinho, em uma reaproximação depois de três anos. Diz que se preocupa em ser correto, que tomou uma atitude que, acredita, era a conveniente no momento (quando, em 2007, deixou de fora o levantador da disputa dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro), por questões que não acha conveniente divulgar, porque eram relacionadas ao grupo.

Mas agora houve “uma retomada de relação adulta”. Bernardinho dá pistas de que poderá voltar a contar com o campeão olímpico de Atenas-2004 e do Mundial do Japão-2006.

- Não podemos condenar ninguém à prisão perpétua. E, sim, já conversei com ele algumas vezes.

Nesta entrevista ao R7, o técnico campeão olímpico e campeão mundial ainda fala de seleção, paixões e desafios, preocupações e valores.

R7 - Como está a seleção brasileira para 2010?

Bernardinho – Depois de 2008, a seleção está forte, mais numerosa em termos de jogadores. Com um final de ciclo, as mudanças são necessárias. Então, estamos com uma equipe bem renovada. Mas tenho de pensar em perspectiva, na Olimpíada de Londres-2012, mas também, em paralelo para a Olimpíada do Rio-2016. Temos uma base para trabalhar, para crescer. Um ano junto é muito pouco. E somos obrigados a apresentar listas de convocações muito precipitadamente, sem condições plenas de fazer uma análise completa. Por isso, é muito difícil tomar decisões. Tento ser o mais justo possível.

R7 – No geral, quais são as características desse novo grupo?

Bernardinho – Temos uma geração mais alta, com centrais mais altos. Mas ainda não temos a eficiência do Gustavo, por exemplo, uma das pilastras da geração passada, que tinha grandes performances, que suportava muita pressão. O Lucão tem grandes perspectivas, mas tem de aprender muito, evoluir. E eu estou sempre muito preocupado com o correto.

R7 – E também que os jogadores estejam muito focados no trabalho.

Bernardinho – O jogador tem de mergulhar nisso tudo. Não pode deixar de aproveitar tudo! Precisa ter muita vontade. Claro que a gente paga um preço por isso, com relação a família, por exemplo. Mas eles precisam estar dispostos a continuar, pagando o preço. Está no pacote. Quem está ali, não pode estar questionando. Só será competitivo se estiver ali integralmente. Se não estiver com o coração, com a paixão, não rola. O jogador tem deficiências e virtudes, mas tem de estar ali por inteiro, ser intenso.

R7 – Você é assim...

Bernardinho – Eu não mudei em nada. Minha intensidade é a mesma. Posso dizer que, profissionalmente, nada – nada – me dá mais prazer do que a minha atividade. Dar um treino bem dado, ver um time crescendo, um jogador em evolução. É uma satisfação única. Por isso, leio muito, tenho planos de traduzir livros, participo de palestras... Palestras que considero mais como “testimonials” [relato de experiências, de reflexões). Porque gosto de dividir o conhecimento com as pessoas.

R7 – E quando as pessoas cobram que você precisaria diminuir um pouco o ritmo? A Fernanda Venturini [mulher de Bernardinho e mãe de suas duas filhas, Júlia e Vitória] diz que você poderia ficar apenas com a seleção [e deixar de dirigir o time feminino da Unilever-RJ). 

Bernardinho – Diminuir um pouco... eu penso nessa possibilidade. Mas, ao mesmo tempo, não me vejo longe do processo. Talvez ainda fique um pouco mais de tempo. Ficar permanente com a seleção talvez seja uma saída. Uma saída entre outras...

R7 – E se você “perder o emprego”?!

Bernardinho – Perder o emprego? Não tenho medo, não! Se me mandarem embora da seleção, vou atrás de outros times para dirigir. Se não tiver nenhum que me queira, monto um para mim! [risos]

R7 – Mas você estava falando da seleção.

Bernardinho – Sim. Temos um grupo competitivo, com mais altura, com jogadores de 2,10 m, 2,12 m. Isso muda a característica da equipe. Veja o André Nascimento, de 1,95 m, 1,96 m. Era de uma entrega total, de uma coragem... E de uma eficiência. O Leandro não consegue tanta velocidade. Então, agora preciso aproveitar as características dele. Esse é o grande barato da história!

R7 – Sim, mas algumas coisas, alguns valores, permanecem.

Bernardinho – Algumas coisas são essenciais. Têm de permanecer porque eu não aceitaria se não fosse dessa forma. Por exemplo: quem não tenha total envolvimento. Dos jogadores mais antigos, eles dão tudo no treino, como se fosse o primeiro deles na seleção. Não preciso nem cobrar dos mais novos, porque para eles mesmos seria constrangedor não treinar da mesma forma. Eles vêm exemplos, sabem que têm de dar tudo ali, porque os resultados vêm do trabalho de muitos, de gerações anteriores. É um afluxo de jovens, que empurram a fila. Mas sempre existem aqueles que são as molas propulsoras, as molas propulsoras de sonhos desses mais novos.

R7 – Para você, trabalhar é questão de prazer, não?

Bernardinho – Sim, sabe quando você acorda com aquele sentimento... Sentimento de que o dia será bom, por qualquer motivo, porque vai comer o bolo feito pela mãe? Esse sentimento bom é o que eu quero quando dou um treino. É uma frustração imensa quando o treino não é bom. Porque os jogadores, se não se prepararem, não terão segurança na hora de jogar. Eu me preocupo com o time, com o que vai na mente e no coração deles.

R7 – E armar uma lista de convocação? Sempre é muito difícil? Pior: e cortar?

Bernardinho – São 19 para a Liga Mundial, com a lista divulgada no dia 30. Vou conversar de novo com o Ricardinho, que está jogando muito bem, um vôlei de primeira qualidade. Tenho uma pré-relação com Lorena, Wallace, Sandro, Thiago, Maurício... Mas temos de pensar na seleção B, que vai à Copa Pan-Americana... E temos de pensar um pouco na Olimpíada-2016, nesses jogadores abaixo de 23 anos. Pior é ter de soltar listas muito cedo, sem uma análise completa. Tento ser o mais correto, o mais justo possível, mas não há como não me preocupar. Eu realizo o sonho deles. E se tenho de cortar um sonho de vida, como não sofrer?

R7 – Você, que foi levantador... qual seu levantador ideal?

Bernardinho – Um misto de Maurício e Ricardinho, com Fofão e Fernanda! Não adianta (risos)... O Bruno, por exemplo, tem a cabeça dele, as limitações e as virtudes dele.

R7 – E a Júlia e a Vitória?

Bernardinho – A Júlia é muito independente, muito “Fernanda”. A gente abre o leque para ela fazer várias coisas, fazer o que gosta. E a Vitória... Quando eu chego e ela abre aqueles olhos azuis, dá aquele sorriso...

R7 – Você amolece inteiro...!

Bernardinho – Total! (risos) e quando ficam doente? Durmo mal, não posso nem pensar. E quando é jogo do Bruno [levantador da Cimed/Florianópolis, campeão da Superliga]? Eu fico prá morrer! É um dilema. Não consigo separar o “ser pai” do “ser torcedor”.

R7 – Mais um pouco de seleção: e os adversários do Brasil este ano, como estão?

Bernardinho – Polônia. E Rússia, Bulgária... E a Itália, que está com alguns jogadores voltando, muito motivados porque o Mundial deles será em casa, lá em Roma... E são jogadores de postura. A Polônia tem o Kurek, a Rússia... está no mesmo nível do Brasil, se ainda não estiver à frente... E Cuba!

R7 – Tem o novinho, o León, que é um fenômeno...

Bernardinho – Não é nem só ele. E o Simón, o central? Tem 23 anos e é um absurdo, um monstro! E os Estados Unidos também estão muito próximos... ganharam da Sérvia... Realmente, o ano está muito fértil.

R7 – Quais deles você teria em sua seleção?

Bernardinho – Ah, vários brasileiros, o Simón, jogadores da Polônia, russos, tem francês! Americano...

R7 - E o Neymar, do Santos, deve ir para a seleção?

Bernardinho – Neymar, Ganso, a gente para quando tem jogo deles na televisão. É realmente um espetáculo. Mas o Dunga tem um grupo. Eu torço muito por ele. Chegou com o clamor popular. E princípios são importantes, valores são importantes.

R7 – Alguns jogadores brilham muito, mas alguns depois desaparecem muito rápido.

Bernardinho – São efêmeros. Aqueles de carreira mais longeva são os que têm três coisas: integridade moral, competência profissional e solidariedade social. Isso é ter sucesso. Isso faz alguém ser respeitado.

Divulgação: Portal R7

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